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Lançamentos predatórios inflam bilheterias e sufocam filmes nacionais

Prática prejudica produções menores, mas pode ser combatida com cotas de tela para obras brasileiras


Grandes lançamentos do cinema atraem multidões para as salas, mas podem também inflar bilheterias e diminuir a variedade de filmes para o público. A superprodução Vingadores: Ultimato, por exemplo, ocupou mais de 80% das salas brasileiras. A prática é chamada de "lançamento predatório" e especialistas defendem a manutenção de uma cota de tela que limite a ocupação das salas e garanta espaço para filmes nacionais.

"Quando há um lançamento predatório, qualquer outro filme, de qualquer nacionalidade, não consegue ser exibido", conta o coordenador da graduação em Cinema e Mídias Digitais do Centro Universitário IESB, Paulo Duro Moraes. "Você está favorecendo apenas uma empresa. Existem filmes brasileiros que foram lançados junto com blockbusters, em uma véspera de feriado, cuja bilheteria foi um fracasso", completa.

Para Moraes, o alto número de pessoas interessadas em assistir um blockbuster não justifica a reserva de tantas salas nos cinemas. Quem não quer assistir a grande produção do momento fica sem opções e pode até evitar os cinemas. O monopólio afeta ainda cineastas brasileiros, que precisam adiantar ou atrasar o lançamento de seus filmes para não coincidir com lançamentos de Hollywood.

Outro problema dos lançamentos predatórios é que eles podem inflar a bilheteria de um filme. Vingadores: Ultimato superou o clássico Titanic e tornou-se o segundo filme com maior arrecadação da história, ultrapassando a marca de U$ 2 bilhões.

"Se há apenas um filme em todas as salas, é mais fácil que mais pessoas o assistam", conta Moraes. "Você tem inclusive uma competição desleal com outras obras. Isso não significa que o Vingadores não conseguiria essa bilheteria de outra forma, mas o fator das salas de cinema com certeza influencia nesse número", completa.

Moraes também defende a manutenção da Cota de Tela, prática que define uma porcentagem mínima de salas para filmes nacionais dentro de um cinema. Esse número é definido todo ano por decreto presidencial, mas o governo federal não assinou o documento no ano passado. Em 2019, o decreto está aguardando aprovação na Casa Civil e foi submetido após a polêmica causada pelo Vingadores: Ultimato.

"Para o cinema nacional, é muito importante que haja uma reserva de mercado", conta Morares. "A importância de assistir um filme brasileiro é mais do que uma questão de língua, porque os filmes estrangeiros podem ser dublados. É questão de nos enxergarmos, vermos e termos contato com a nossa cultura.", finaliza.

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